Ecoeficiência: é possível?
- Orlando Menezes
- 6 de out. de 2020
- 9 min de leitura
Conceito busca reduzir o impacto ambiental mantendo o desenvolvimento, mas realmente há como alcançar esse objetivo?

Na década de 70 a poluição ambiental se tornou um fato importante em todo o mundo. Diante disso, a comunidade científica entrou em cena, chamando a atenção para os danos ao meio-ambiente e buscando seu saneamento.
A partir do alerta científico, foi demonstrado que a capacidade de sustentação da natureza estava em xeque e isso merecia respeito e atitude. Daí surgiu o termo ecoeficiência, ou seja: a redução dos impactos ambientais a partir do uso mais eficiente dos insumos naturais e de energia durante o processo produtivo.
A necessidade de um programa de produção mais limpa e protetiva do meio ambiente se tornou premente. De acordo com ele, as empresas se obrigarão a reparar possíveis danos naturais, como compensação a sua agressão ambiental.
O conceito de ecoeficiência chegou até as indústrias no final da década de 80. O objetivo era reduzir o impacto ambiental, mantendo o crescimento socioeconômico. Dessa forma, as empresas assumem um elo de respeito e valorização da natureza.

Energia solar, forma de produção de energia limpa que é uma das alternativas para reduzir o impacto ambiental
O Conselho Mundial de Negócios para o Desenvolvimento Sustentável - WBCSD, introduziu em 1992 a ideia da ecoeficiência. A Conferência Mundial do Meio Ambiente, realizada no Brasil em 1992 (RIO 92 ), divulgou para o mundo a importância da eficiência do uso do meio ambiente.
Aos poucos, a ideia passou a se popularizar junto às empresas no mundo. Através da Conferência, as organizações implementaram no setor privado a agenda 21. Ela é fundamentada no seguinte texto:
A humanidade tem hoje a habilidade de desenvolver-se de forma sustentável, entretanto é preciso garantir as necessidades do presente, sem comprometer as habilidades das futuras gerações em encontrar suas próprias necessidades.
Em junho de 2012 no Rio de Janeiro, aconteceu a Conferência da ONU, a RIO+20. O evento teve como base das discussões o Desenvolvimento Sustentável. Na ocasião, os 193 países países participantes estabeleceram metas para alcançar o objetivo desejado no mundo.

Discurso de Dilma Roussefd na RIO+20, ocorrida em 2012 (Imagem: FABIO RODRIGUES-POZZEBOM/ABR/ EBC)
Também, na RIO+20 foram definidos os 17 novos objetivos de desenvolvimento sustentável, a serem alcançados até 2030. A implantação dos ODS visa em primeira instância, a redução da pobreza, a promoção social e a proteção ao meio ambiente e procura orientar o acesso universal à água limpa e a energia sustentável para todos.
De acordo com a WBCSD a ecoeficiência é o mesmo que combinar desempenho econômico e ambiental com a redução dos impactos ambientais. Para isso usa-se racionalmente matéria prima e energia. Além disso as atitude ecoeficientes também reduz riscos de acidentes e melhora a relação meio ambiente e economia.
O status de ecoeficiência de uma empresa pode ser estimulada por princípio ecológico, social ou ético dos interessados. A influência pró-ecoeficiência pode partir do Estado, de ONGs, dos meios de comunicação, de consumidores verdes etc.
A mudança de postura para eficiência ambiental exige entre outros aspectos; agregação de valor e valorização da imagem. Para isso deve demonstrar atitudes desde reativas, até proativas em relação a proteção ao meio ambiente. Em última instância, a ecoeficiência visa melhorar o valor do produto da empresa. A ideia considera a busca da sua durabilidade, sua reciclabilidade e da eliminação do desperdício no processo reprodutivo.
Caminhos para implantação da ecoeficiência

Exemplo de indústria poluente. A modificação de características já muito estabelecidas das empresas, como um modo de produção com emissão de poluentes, é um desafio para ecoeficiência das empresas. (Patrick Hendrick/Unsplash)
Tornar-se uma empresa ecoeficiente não é fácil. Depende de uma transição gradativa, de acordo com a cultura do material humano envolvido e dos critérios adotados pela empresa interessada. A capacitação de pessoal e estudo sobre ecoeficiência no fabrico e no retorno do item produzido, também são fundamentais.
A experiência permite afirmar que um sistema ecoeficiente consegue produzir mais e melhor, envolvendo menos recursos e originando menos resíduos. Para isso a empresa deve: promover a reciclagem dos materiais, a utilização máxima da sustentabilidade dos recursos renováveis empregados e buscar a educação e conscientização dos consumidores dos produtos da empresa.
Nos pontos de vista prático e técnico, pode-se citar como medidas de ecoeficiência para uma empresa, os seguintes itens: opção por formas alternativas de energia limpa, substituição de equipamentos convencionais por outros mais eficientes e econômicos. Além disso a empresa deve compostar resíduos orgânicos para uso próprio ou através de parceria comunitária.
As medidas de ecoeficiência hoje consideram que a co-participação entre economia e preservação ambiental traz benefícios para ambos. Com isso se espera a solidificação das empresas e a garantia de uma boa interação com a sociedade.
Muitas empresas hoje se esforçam para investir em "produtos verdes". Investem em estudo, tecnologia e pessoal qualificado para satisfazer as atuais gerações, mantendo o pensamento nas gerações futuras e seguindo, dessa forma, a essência da agenda 21.
As pessoas, por outro lado, ao se conscientizarem do valor da ecoeficiência, preferem pagar mais caro por um produto oriundo de empresa ecoeficiente. Fazem isso certos de que clientes e empresa, apoia iniciativas sustent´veis e preservam o planeta.
Exemplos de empresas com iniciativas ecoeficientes
Muitas empresas no Brasil e no exterior têm se destacado por suas iniciativas sustentáveis. Vale a pena conhecer um pouco sobre algumas delas:
Foto: KlausAires/Pixabay

A FABER CASTELL, conhecida fábrica de lápis, utiliza como matéria-prima, madeira proveniente de seus programas de produção de madeira. Durante seu processo produtivo, 82% da energia utilizada vem de fontes renováveis. A madeira residual é transformada em energia na forma de vapor.
Foto: Wikipedia Commons

A TETRA PAK é considerada a empresa mais sustentável no setor de bens de capital. É líder mundial em processamento de envase de alimentos. Suas embalagens cartonadas utilizam 80% de energia de fontes renováveis. Desenvolve esforços no processo de reciclagem de seus produtos. A telha tetra pak é a mais recente novidade em reciclagem de matéria-prima.
Foto: rafaelperov/pixabay

A NATURA é uma empresa que mantém foco nas questões socioambientais. Utiliza produtos naturais de biomas do Brasil (plantas e frutos). No processo de produção tem como funcionários, a comunidade local. A empresa gera iniciativas sociais de importância, garantindo infraestrutura, saneamento básico e proteção natural das regiões produtoras de matéria prima, com destaque para a região norte do Brasil.
Foto: Fábio Aro/Flickr

A empresa automobilística italiana FIAT há mais de 10 anos tem desenvolvido programas para desenvolvimento de produtos mais seguros, eficientes e com menor emissão de CO2. Busca a redução do impacto ambiental, otimizando o consumo de recursos naturais.Sua tecnologia estimula a economia de combustível. Executa projetos de sustentabilidade, mantendo um bom
relacionamento com a sociedade.
Foto: Eduardo P/Wikipedia Commons

O BANCO DO BRASIL é destaque internacional em sustentabilidade, pois tem investido muito em economia verde. Busca reduzir a emissão de carbono e aumentar a eficiência no uso dos recursos naturais e de inclusão social. Utiliza sua agência 30 BB para se manter aliado aos ODS da ONU, o que viabiliza as ações sustentáveis estabelecidas.
Foto: Walmart/Flickr

A WALMART tem em mente a promoção de desenvolvimento socioambiental em todos os elos da cadeia de valor. Para ela há importância desde a extração da matéria prima até o descarte do produto pelo consumidor. Busca a economia de energia e redução na produção de resíduos. É parceira de fornecedores através de programas como sustentabilidade de ponta a ponta.
Foto: Raimond Spekking/Wikipedia Commons

A empresa holandesa PHILIPS há 10 anos se esforça para produzir produtos que economizam energia. Além disso, dispensam o uso de embalagens e de substâncias tóxicas na sua linha de produção. A empresa minimiza o impacto ao meio ambiente. Seus produtos desde 2010 são mais leves, têm um tempo de vida maior e podem ser reciclados.
ErvinGjata/Pixabay

A COCA COLA trata a sustentabilidade como um valor, praticando boas práticas de marketing verde. Está presente em mais de 200 países, visando causar um aspecto positivo para o planeta. A empresa tem em mente um mundo sem resíduos e um desejo de reciclar toda garrafa ou lata que produz até 2030. Uma das metas é devolver ao meio ambiente o dôbro da água que consome na linha de produção.
Foto: Pixabay

A indústria de bebidas AMBEV tem se destacado em eficiência sustentável. Suas 30 fábricas têm se esforçado em reduzir ao máximo, o consumo de água e de energia. Além disso, é mínima a geração de resíduos. Grande parte da água utilizada no processo de produção é reaproveitada. A empresa tomou também para si o compromisso da ecoeficiência. Ela é uma das dez maiores contribuintes
de impostos do país.
A ecoeficiência no mercado de hoje
O tempo e a experiência adquirida pela empresas ecoeficientes já mostrou ao redor do mundo a importância desse destaque econômico-social. Por outro lado, muitos fatores impedem a concretização de ecoeficiência de uma empresa. Entre eles destacam-se: a modificação do processo produtivo (estrutural) e a insegurança no futuro (comercial). Também dificultam a falta de comunicação interna e a dificuldade na elaboração de programas ecoeducativos.
É importante considerar que o consumidor aparece como um influenciador das empresas ecoeficientes. Sua atitude consciente em relação à desperdício de recursos, condições sub-humanas de trabalho e poluição causada pelas empresas, tem feito a diferença.

Responsabilidade social e pensamento coletivo são valores cada vez mais prezados pelos consumidores (Foto: rawpixel.com/PxHere)
De acordo com o selo de excelência das empresas que se preocupam com a comunidade e meio ambiente, o marketing social, as empresas são levadas hoje a pensar menos no lucro, priorizando o bem-estar social. Com isso, consideram a responsabilidade social fundamental na gestão da empresa.
São complexas as relações entre questões legais ambientais e as questões relacionadas ao comércio internacional. Sabe-se que a prática do livre-comércio, em crescente evidência e a liberalização econômica, conduzem ao aumento dos níveis de degradação ambiental. Isso traz como consequência a perda de biodiversidade e poluição.

Desmatamento e queimadas são algumas das mais frequentes ações por parte de empresas não ecoeficientes (Foto: Bruno Kelly/Amazonia Real)
A necessidade de relação comercial entre os países ao longo do tempo, criou também mecanismos de controle econômico. Um deles é a chamada barreira verde. De acordo com ela, os países sustentáveis (importadores) exigem dos outros países, os não sustentáveis, a prática de atitudes ambientais corretas.
Entre as atitudes de proteção socioambiental estão; a não utilização de agrotóxicos na produção agrícola, o uso de medicamentos ou vacinas veterinárias na atividade pecuária ou a garantia de redução de emissão de gás carbônico durante a produção industrial do produto a exportar.
Para facilitar o processo de importação e exportação entre países, foi criado o selo verde. Ele assegura que o produto que o utiliza é produzido de acordo com as normas internacionais de respeito ao meio ambiente. É possível que esse ecoprotecionismo dificulte o livre-comércio. Por outro lado, ajuda a preservação ambiental, passando maior garantia para o consumidor.
Os selos verdes ou selos ambientais se apresentam nos produtos como rótulos ambientais, mostrando que eles assumem e respeitam o compromisso com o meio ambiente em seus processos de produção. Eles são ecologicamente corretos. Podem ser reconhecidos em forma de textos, gráficos, símbolos ou marcas.

Selos verdes são demonstração de compromisso das marcas com sustentabilidade (Imagem: Marsono12/Pixabay)
Alguns dos selos verdes mais bem conhecidos são o ISO - Organização Internacional para Normatização, a FSC - Gerenciamento do uso racional dos recursos florestais e o PROCEL -Selo de eficiência energética que visa orientar os consumidores de produtos eletrodomésticos.
Existe atualmente no mundo índices e sistemas de classificação internacional de países que praticam a sustentabilidade. Um desses índices é o EPI - índice de performance ambientalista. Sua função é medir a situação de 180 países em relação às políticas públicas e ambientais locais, voltadas para a proteção do ecossistema e de saúde pública.
De acordo com o EPI, em 2020 os Dez países mais sustentáveis foram: Islândia, Suécia, Áustria, Suíça, Luxemburgo, Noruega, Finlândia, Dinamarca, Finlândia, Alemanha. A posição do Brasil de acordo com ao EPI é aproximadamente o 55º lugar. Esta posição se justifica por ser ele um país de grande inoperância em relação aos crimes ambientais, justificado por uma frágil fiscalização ambiental.
Outros aspectos também são analisados pelos índices de classificação internacional. Segundo eles, o Brasil deixa a desejar em: saneamento básico, educação ambiental, combate a violência e desigualdade social.

Problemas como o saneamento básico precário prejudicam posicionamento do país em rankings de sustentabilidade (Foto: Caroline Ferraz/Sul21)
A verdade é que devemos pensar como o educador e filósofo Paulo Freire, ou seja; considerar que "Educação transforma as pessoas e elas mudam o mundo". Dessa forma, devemos nos valer da nossa Constituição Federal.
O texto constitucional, no seu artigo 225, considera a Educação Ambiental e Sustentabilidade como uma importante vertente da nossa Educação. Só para lembrar, a Legislação Federal diz: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida, impondo-se ao poder público e a coletividade o dever de defendê lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
Verificamos hoje que a ecoeficiência, considerada no âmbito da política pública, caminha a passos lentos. No Brasil ela precisa de uma abordagem diferente. É preciso tratar a sustentabilidade como um parâmetro de eficiência no cotidiano. A prática da Licitação Pública Sustentável já tem feito parte do processo.
A eficiência nas decisões e implementações da política devem permitir o fluxo de ideias e de boas práticas. Sendo assim, é fundamental considerar sempre a variável ambiental no planejamento e execução dos projetos. Através do decreto 7.746/12, o Brasil estabeleceu critérios práticos e diretrizes para promoção do desenvolvimento nacional sustentável.
Espera-se que o decreto nacional tenha ajudado a desenvolver uma nova cultura de ética ambiental na administração pública. Assim sendo, a modificação gradativa na mentalidade e realidade econômica empresarial tenderá a acontecer, garantindo realmente a proteção ao meio ambiente, como explicitado constitucionalmente.
O Século XXI e suas inovações sociais e tecnológicas traz consigo desafios novos para o ser humano e os governos. Um desses está relacionado às preocupações com as questões ambientais que afligem o Planeta e intimamente ligada ao sucesso do desenvolvimento econômico e social.
É verdade que o consumidor está cada vez mais seletivo em relação aos produtos que utilizam em sua casa. As atitudes ecologicamente corretas e os produtos ecologicamente eficientes estão cada vez mais em destaque. Por conta disso, a indústria, a agricultura e a pecuária, têm procurado atender a uma clientela consciente do seu direito a um produto sustentável.
Agradecimentos
Concluo mais um post, agradecendo as pessoas o incentivo através do acompanhamento virtual. Espero que o texto tenha atendido as suas expectativas informativas e pedagógicas e que possa servir de estímulo à atitudes ecoeficientes. Seu apoio é fundamental no meu trabalho de pesquisa, estudo e produção de textos. Saibam que faço com dedicação e prazer.
Um abraço virtual e aguardem para breve novos temas. Os próximos serão:
Parábolas de JESUS ( 2ª Parte)
A nova e alegre mania do Recife: esporte e lazer com a bike.
O idoso e seu direito a uma vida digna, participativa e saudável.
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